Existem vestígios de um troço de uma via secundária. Conforme o mapa de Jorge de Alarcão, João Henriques Ribeiro escreve nos seus “Subsídios para o estudo da romanização do distrito de Castelo Branco” em que a via principal que passa ligava Emérita Augusta (Mérida) a Viseu passando por Idanha-a-Velha, também denominada por Egitânia.
Isoladamente, o troço presente na Soalheira poderia suscitar algumas dúvidas relativamente à sua origem, uma vez que se encontra num local onde facilmente se juntam águas e poderiam ter sido dispostas algumas pedras com vista a facilitar a passagem das pessoas. Contudo, a presença de outros troços semelhantes nas localidades próximas de Alcongosta, Alpedrinha, Castelo Novo e Soalheira, fazem antever um hipotético itinerário utilizado pelos romanos, que ligava a via principal de Idanha a Viseu, a casal da Várzea, com passagem por Castelo Branco.
Esta teoria ganha nova luz com o testemunho da existência de uma ponte romana que permitia a passagem da margem esquerda para a margem direita da ribeira de Ocreza. Como nos disse o Sr. José Ramos Marques (96 anos)” era uma ponte muito antiga, já sem guias nem nada e notava-se que estava gasta e tinha um arco, em que as pedras estavam todas numeradas, lá com aqueles números romanos.
Todos estes elementos conduzem à ideia de que os romanos, quando andaram pela Península Ibérica, tinham a Soalheira como ponto de passagem e quiçá local de pernoita ou mesmo povoamento. Não existem provas de que os romanos tenham tido um castro na Soalheira.
Contudo, as hipóteses de ser um ponto de passagem são muito fortes, uma vez que no troço que se diz de origem romana está uma fonte (Fonte do Goducho), caracterizada pelo povo como sendo de construção romana.
Foi construída em 1593, que, a avaliar pelo pórtico de cariz românico, terá sido a primeira Igreja Matriz. Note-se que a mesma está localizada relativamente próximo do local onde terá nascido a Soalheira (proximidades da fonte do Goducho). Durante muitos anos funcionou como capela mortuária.
«Capela de Nossa Senhora das Necessidades, é a sede da Misericórdia da Soalheira, que foi instituída por alvará régio de D. Pedro II e tem a data de 30 de Janeiro de 1694 e tomou como padroeira Nossa Senhora das Necessidades.
Nada se sabe da origem da capela, sabendo-se que existia no princípio do século XVII, precisamente em 1629, e o altar é puramente renascença.
O retábulo tem quatro colunas de bela renascença, separados ao meio por uma cimalha, e equidistantes umas das outras, formando seis retângulos, em duas ordens sobrepostas. No retângulo médio superior está o nicho onde se encontrava a imagem da Senhora das Necessidades, antes da sua lacrimação, e nos outros cinco existem quadros pintados representando a Anunciação, a visita a Santa Isabel, o nascimento de Jesus, a Circuncisão e a Apresentação no Templo. No centro do altar encontra-se, ainda, um belo sacrário no mesmo estilo do altar.
A capela tem mais dois altares, o da direita com o Senhor crucificado, tendo dos lados Nossa Senhora das Dores e S. João, e o da esquerda dedicado a S. Bartolomeu. Em 1928 foi feita a capela do Senhor dos Passos. Esta procissão reveste-se de um carácter particular, pois tem três paragens, uma na capela de S. Sebastião, outra na capela de Santo António, e uma terceira na igreja, simbolizando as três quedas de Jesus a caminho do calvário. Em cada uma destas paragens o andor do Senhor dos Passos é atravessado na rua, e toda a gente, com muita devoção, vai passando por debaixo dele.
Na capela existem várias tábuas votivas que dão conta dos benéficos da Senhora. Uma tela de aproximadamente 50 cm de lado com uma pintura regular em que se vê um doente a quem os médicos acabam de cortar o pé, contém a seguinte inscrição:
“Sucedeu este prodígio e lamentável caso ao cónego João Dias d‘Andrade da See de Elvas em os 9 de Janeiro de 1685. M.Q.F. (Milagre Que Fez) a As. A Manuel Rodrigues de Sebolães. Foi ouvida a sua súplica”.
“Maria FR.ca m.er Joan Ferreira da Póvoa de Atalaia semeando um linhar lhe deu uma vaquã huma cornada e rompendo-lhe o ventre estava à morte e chamando por essa Sra das Necessidades teve saúde no ano de 1712”.
“M..F.N.S. das Necessidades a Maria Gertrudes estando doente de parto recorreu à mesma As. Foi ouvida a sua rogativa Ano de 1853”.”M.Q. Fez a as a Maria Margarida do lugar de Ansaris e foi ouvida a sua súplica.”»
A igreja atual foi construída no princípio do século XIX (1802 a 1828), no mesmo local onde existia a igreja antiga, mas da qual nada ficou a não ser algumas imagens. O grande obreiro da obra foi o Pároco Padre José Dias Duarte Preto, que durante mais de 40 anos exerceu na Paróquia uma ação invulgar, devendo-se a ele muitas obras, sendo de destacar, além da igreja, a reedificação da capela de Nossa Senhora das Necessidades. Em 1792, o Visitador do Bispado declarou no livro de visitas que era um escândalo estar o Santíssimo numa igreja toda escorada e em tal ameaça de ruir, que os fiéis corriam o risco de morrerem. E então fazia apelo aos homens bons da Soalheira para que se unissem e tratassem da reconstrução da sua igreja. Até à conclusão da obra em 1828, serviu de paróquia a Capela de Santo António.
A nova igreja foi inaugurada em fins de 1828 ou princípios de 1829, não tendo ficado ainda concluída. Só em 1837 foi pintado o altar-mor, em 1838 foi feito um dos altares laterais, e em 1840 o outro. Em 1844 e 45 foi feito o coro. Em 1858 reformaram o campanário, pois era baixo relativamente à igreja, não dominando os sinos a freguesia. A igreja ficou concluída ao cabo de 56 anos de obras.
Num ângulo do adro da capela de Nossa Senhora das Necessidades existe um cruzeiro. Esteve anteriormente no meio do largo que forma agora o segundo plano inferior do adro, e foi mais tarde colocado em frente do antigo cemitério quando se delimitou com um muro esse segundo plano do adro.
É uma das principais fontes da vila. Sendo a água que dela brota muito fresca e leve, é com grande satisfação que as pessoas que por ali passam bebem daquela água, principalmente no verão.
Atualmente a fonte da praça está muito modificada, em relação ao seu traçado inicial, visto que o largo onde se encontra estava murado, existindo no seu interior, bancos onde as pessoas se podiam sentar enquanto apanhavam água para abastecer as suas casas, claro que estamos a falar de um período em que não existia água canalizada na Soalheira.
A água que desta fonte brota e não é aproveitada, visto que está sempre a correr, é canalizada para um tanque circular, que se encontra um pouco mais abaixo, denominado de repuxo, pelas pessoas da Soalheira. Atualmente o repuxo tem no seu interior, peixes de variados tamanhos e espécies, constituindo assim um lugar aprazível bem no centro da Vila.